Mesmo com aumento no plantio
de trigo, que está com área 20% maior no Paraná, os moinhos vão continuar
enfrentando escassez de matéria-prima. Após queda de 25% na oferta interna no
último ano, as indústrias planejavam repor os estoques com a entrada da nova
safra, a partir deste mês. Contudo, as geadas da última semana fazem produção
recuar e prolongam o ciclo de preços elevados.
Antes da geada
“Expectativa era boa”, diz
produtor Ainda contabilizando as perdas, o produtor Gilberto
Peruzi acredita ser difícil salvar alguma coisa dos 280 alqueires de trigo,
plantados na região de Londrina. “Uma parte tinha seguro, mas o prejuízo será
grande. A expectativa era muito boa, agora, é roçar tudo e esperar para plantar
soja.” O prejuízo, segundo Peruzi, não foi tão grande nos 580 alqueires de
milho, que já estava em estágio avançado. “Um pouco vai perder, mas acho que
uns 10% só. Acredito que o preço deve se manter, o milho já tinha bastante
contrato.”
Período de preço alto será
prolongado
Com uma valorização
acumulada de 50% em 12 meses, as cotações do trigo vão continuar elevadas
graças às geadas, avaliam os analistas. E as previsões são de novas ocorrências
até setembro, com efeitos ainda mais graves para o trigo em estágio avançado.
“Os preços que deveriam baixar com a entrada da nova safra, entre setembro e
novembro, devem continuar elevados até o final do ano”, avalia Luiz Carlos
Pacheco, consultor da Trigo e Farinhas. Elcio Bento, analista da Safras e
Mercado, destaca que antes dos problemas climáticos o mercado já estava
realizando ajustes. “Os negócios futuros estavam sendo feitos a R$ 750 a
tonelada, mas o mercado hoje está em R$ 900 por tonelada”, compara. Essa alta
busca, justamente, viabilizar a importação de trigo de regiões que também
enfrentam escassez. Valor médio Entre julho de 2012 e julho
deste ano, o valor médio da saca de 60 quilos saiu de R$ 25,81 para R$ 39,17 no
Paraná. O movimento se repete no varejo, onde o quilo da farinha saiu de R$
1,51 para R$ 2,07 no período, conforme a Secretaria Estadual da Agricultura e
do Abastecimento (Seab). Bento destaca que como as indústrias repassam os
custos, a alta gera reflexos sobre o consumo, pois “o mercado não consegue
assimilar integralmente essa mudança”. A indústria da panificação afirma que os
reajustes devem ocorrer em proporção menor nos produtos finais, que envolvem
outros custos.
Os moinhos avaliam
preliminarmente a quebra entre 25% e 30%, até 780 mil toneladas. O impacto
maior deve ocorrer sobre as primeiras lavouras a serem colhidas. “Começa a
haver um desespero no mercado. As empresas estão diminuindo a moagem”, afirma
Marcelo Vosnika, presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira
da Indústria do Trigo (Abitrigo). O risco é de a necessidade de importação
recorde de 2013, estimada em 7 milhões de toneladas pela Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab), ser ampliada a 8 milhões.
Uma sequência de fatores
limitou a disponibilidade de trigo no Brasil. “Foi uma bola de neve”, resume
Vosnika. Ele aponta que houve queda na área plantada pela Argentina, principal
fornecedor externo. Na sequência, Paraná e Rio Grande do Sul, líderes na
produção nacional do cereal, enfrentaram quebras na produção. Finalmente, com
problemas na safra de milho, os Estados Unidos ampliaram o consumo de trigo.
Com pouca disponibilidade do
produto na América do Sul, o governo brasileiro suspendeu a cobrança da Tarifa
Externa Comum (10%), que incidia sobre todas as compras do cereal feitas fora
do Mercosul. A medida, anunciada em abril, foi prorrogada sucessivamente e
agora vale até o dia 31 deste mês. A Conab zerou os estoques públicos e lançou
meio milhão de toneladas no mercado, mas os preços do produto continuaram
elevados.
No Paraná, o valor da saca de
60 quilos está acima de R$ 42, patamar que fora atingido em 2008. O estado teve
52% das lavouras (490 mil hectares) expostos às geadas da última semana,
conforme a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab). Rui Marcos de
Souza, gerente de suprimentos do moinho Globo, de Sertanópolis (Norte), avalia
que o alto preço da matéria-prima é agravante para a indústria. Se eu
precisasse de trigo hoje estaria muito preocupado”, relata.
Em Cascavel (Oeste), a
cooperativa Coopavel aguarda o início da safra para definir a necessidade de
importação. “Aumentamos a área plantada em 70% e, se faltar produto, nossa
opção é importar da América do Sul”, afirma Dilvo Grolli, presidente da
cooperativa. Elcio Bento, analista da Safras e Mercado, diz que importação deve
aumentar, mas pode se limitar a 7,5 milhões de toneladas. "É preciso
quantificar as perdas. Projetando uma quebra total de 500 mil toneladas devido
às geadas, esse também deve ser o volume a ser importando", pondera.
Gelo atingiu áreas de
floração
As lavouras de trigo mais
prejudicadas pela geada foram as que se encontravam em fase floração ou
frutificação. Cerca de 320 mil hectares ficaram expostos às geadas mais fortes,
e outros 170 mil hectares foram atingidos pelas geadas moderadas, avaliam os técnicos
da Secretaria Estadual da Agricultura. Os agricultores estão avaliando os
prejuízos.
Em Foz do Iguaçu (Oeste), o
agrônomo Roberto Sgarbossa, que monitora 500 hectares, conta que o plantio foi
programado suportar geada em junho e não em julho. “Em 2012 sofremos perdas de
10%, mas neste ano calculamos quebra de 90%, se não de todo o cultivo”, aponta.
No Norte, o gerente técnico
da cooperativa Integrada, Irineu Baptista, estima que 60% de 80 mil hectares de
trigo foram afetados. “O trigo que seria colhido agora em agosto foi
extremamente prejudicado”, avalia.
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